Nada muda com ata do Fed e insegurança no câmbio segue em junho
Qua, 31 Mai, 17h43
Por Nathália Ferreira
SÃO PAULO (Reuters) - A tão esperada ata do Federal Reserve saiu, mas nada mudou quanto às dúvidas sobre o rumo do juro nos Estados Unidos. Assim, o mercado de câmbio segue atrelado ao cenário internacional e com espaço para mais nervosismo e volatilidade em junho, apontam analistas.
Em maio, a moeda norte-americana subiu 11,25 por cento, para 2,323 reais, registrando o maior ganho mensal desde setembro de 2002. Vale lembrar que, naquela época, o país viveu as eleições presidenciais que deram vitória ao candidato da oposição, com o dólar chegando a bater 4 reais em outubro.
O gatilho para a alta do dólar em maio foi a reunião do Fed no dia 10, quando o BC norte-americano deixou em aberto a possibilidade de seguir elevando os juros para lidar com os riscos inflacionários. Até então, o dólar seguia em forte curva de baixa, batendo a mínima do ano no dia 05, a 2,056 reais.
O receio de juros maiores nos EUA provocou um movimento global de aversão a risco, que fez o dólar saltar a 2,401 reais no dia 24. A ata do Fed tornou-se, então, a grande expectativa do mês, para sinalizar o que viria adiante.
No documento, o BC norte-americano mostrou incerteza sobre o quanto mais os juros deverão subir nos EUA, e se subirão.
"O mercado não mudou absolutamente nada... a ata não falou grandes coisas, não foi conclusiva", afirmou Jorge Knauer, gerente de câmbio do banco Prosper.
Segundo Silvio Campos Neto, economista-chefe do banco Schahin, o mercado já está "relativamente conformado" com mais um aperto monetário nos EUA, mas acredita que o estresse pode ser maior, caso sejam necessárias outras elevações de juros por lá.
"O pessoal continuará olhando os próximos dados, até o final do (próximo) mês o pessoal fica um pouco na dúvida", disse Campos Neto.
Para a economista-chefe do BES Investimentos, Sandra Utsumi, não é interessante para o Fed definir um rumo certo para os juros, se os próprios membros estão inseguros.
"Eles observam que há grande probabilidade de estarem corretos, mas trabalham com limites estreitos... nada que traga definição se deve parar ou não (de subir o juro), então ele mesmo quer resguardar essa flexibilidade", afirmou a economista.
NOVO PATAMAR
A economista acredita que, depois da oscilação de maio, o mercado está se estabelecendo em um novo patamar e os investidores estrangeiros devem continuar cautelosos antes de alavancar suas posições em ativos de emergentes.
"(Um patamar que) não é exuberante como foi no primeiro trimestre do ano, mas também acho que não vai ser nenhum inferno", disse ela, lembrando que o mercado vivia uma situação em que ganhos adicionais significavam correr mais riscos.
Para ela, a volatilidade de maio, que deve se estender em junho, ainda não afeta as projeções para o dólar no longo prazo. E há espaço para voltar a se aproximar dos 2 reais, caso haja uma melhora no cenário internacional.
Knauer, do Prosper, lembrou que "se olhar para o fluxo e os fundamentos da economia, balança comercial.. teria uma leve tendência de queda dado o volume (de divisas) que pode entrar no país".
SOCORRO DO BC
As oscilações bruscas deste mês atraíram uma resposta do Banco Central, que ressuscitou depois de dois anos o leilão de swap cambial "tradicional" --que oferece hedge ao mercado.
Campos Neto, do Schahin, acredita que o BC tem munição para fazer novos leilões desse tipo em junho.
"O BC mostrou que não adianta vir com processos especulativos, porque tem muita munição para conter. Ele tem todas as condições de entrar vendedor (de dólar)", disse ele.
Nesses swaps, o mercado ganha quando a variação do câmbio supera a do juro e a operação tem efeito de uma venda futura de dólares. Até o mês passado, o BC vinha negociando o swap cambial reverso, que tinha o efeito contrário de brecar a queda do dólar, ao pagar juro em troca de variação cambial.