Celso Ming
Quando afirma que o PIB chinfrim se deve ao baixo consumo (prejudicado pelas fracas exportações pelo funcionamento precário do crédito), o ministro contraria as estatísticas que, ainda nesta quinta-feira, apontam para um avanço do consumo muito superior ao do PIB: 4,5% contra apenas 2,2% (veja o Confira). O problema não está no consumo, mas na baixa capacidade de oferta, a ponto de puxar excessivamente pelas importações.
Independentemente disso, apontar apenas dois problemas é de um reducionismo atroz. A crise externa, por exemplo, é menos prejudicial ao Brasil do que as próprias mazelas internas e, a rigor, não pode ser considerada uma perna da economia. Atribuir as dificuldades à crise externa é desviar as atenções de nossos próprios problemas.
É verdade que a crise externa está reduzindo as exportações de mercadorias produzidas no Brasil. Mas aí os problemas são nossos e mais profundos. Tanto são que a crise é a mesma para todas as economias e, no entanto, o desempenho do PIB brasileiro no terceiro trimestre do ano foi o pior no Grupo dos 20 (G-20), como apontou a OCDE nesta quinta.
O setor produtivo brasileiro opera com baixa competitividade, porque enfrenta um custo Brasil excessivo: altíssima carga tributária, infraestrutura ineficiente, uma Justiça lenta e confusa, legislação trabalhista caótica, burocracia exasperante, e por aí vai. Afora isso, o País descuidou dos acordos bilaterais de comércio. Mais de 300 acordos do tipo estão em vigor no mundo, que dão preferência às encomendas da indústria dos países signatários e alijam as do Brasil.
Também quando diz que o consumo está sendo freado pela desaceleração do crédito livre às pessoas físicas, o ministro deixa de levar em conta mancadas mais graves. Os bancos avançam mais devagar no crédito porque a inadimplência (calote) aumentou. E só aumentou porque as famílias estão excessivamente endividadas. Também aí, as causas do mal desempenho da economia não são o desinteresse dos bancos ou alguma trava do sistema financeiro interno, mas os limites físicos, digamos assim, da capacidade de consumo do brasileiro.
A todo momento, as análises esbarram nas questões estruturais de sempre. E o primeiro passo para enfrentá-las é admitir os problemas, coisa que o governo Dilma não faz ou só faz com muita dificuldade.
Nesta sexta-feira, a consultoria Tendências alertou para o fato de que os títulos do Tesouro do Brasil já estão pagando um “seguro contra calote” mais alto do que os títulos da Itália, da Espanha e da Irlanda, três dos países problemáticos (veja gráfico acima). Trata-se do ativo conhecido pela sigla CDS (Credit Default Swap) que fica tanto mais caro quanto maior for o risco de um título
Chez les 3 autres la chute est rapide, au Brésil la montée est plus lente mais certaine !!!